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Coleção Charles Perrault

Cada livro da coleção traz o conto de Perrault traduzido que dá título ao volume e artigos acadêmicos sobre ele.

 

  • Flávia Côrtes e Regina Michelli assinam o artigo O conto de fadas na sala de aula, presente em todos os volumes. 

  • A organização é dos professores doutores da UERJ Regina Michelli, Flávio Garcia e Maria Cristina Batalha.

  • Baixe aqui os PDFs.

  • Leia aqui o artigo O conto de fadas na sala de aula.

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Chapeuzinho Vermelho abre a Coleção Charles Perrault, homenageando o escritor francês responsável por eternizar, em livro, histórias que antes circulavam pela transmissão oral, contos maravilhosos que atravessam os tempos em diferentes releituras e suportes. Além desse conto que inicia a coleção, por meio de Perrault temos acesso a “Cinderela”, “A Bela Adormecida do Bosque”, “Barba Azul”, “O Gato de Botas”, “As Fadas”, “Riquet, o Topetudo” e “O Pequeno Polegar”, contos em prosa que integram a herança cultural da humanidade.

A gênese desta publicação reside num projeto de Estágio Interno Complementar (EIC) intitulado “Trabalhando com a Literatura Infantojuvenil”, vinculado à Sub-Reitoria de Graduação da UERJ. Seu objetivo principal é viabilizar a tradução e a publicação de obras da tradição já de domínio público, contribuindo para os estudos na área da literatura para crianças e jovens por meio de material fidedigno, passível de ser utilizado tanto em pesquisas acadêmicas, quanto em atividades didáticas.

Para realizar a publicação, tornou-se necessária a conjugação de esforços, o que implicou a união de professores da UERJ responsáveis pela organização da coleção, bem como a utilização de recursos oriundos de outros projetos de natureza variada da própria instituição, como o Dialogarts e a Unidade de Desenvolvimento Tecnológico Laboratório Multidisciplinar de Semiótica (UDT LABSEM). Cumpre realçar, porém, que não teríamos atingido o resultado final desejado sem a contribuição valiosa de bolsistas e orientandos que se vincularam e ainda se vinculam ao projeto, cujos nomes aparecem nos créditos da publicação, todos integrantes do Diretório de Grupos de Pesquisa CNPq “A narrativa ficcional para crianças e jovens: teorias e práticas”, e do projeto de Extensão da UERJ “Literatura Infantojuvenil: em cont(r)os”.

Boa leitura!
Regina, Flávio e Maria Cristina

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As Fadas é o segundo número da Coleção Charles Perrault, homenageando o escritor francês responsável por eternizar, em livro, histórias que antes circulavam pela transmissão oral, contos maravilhosos que atravessam os tempos em diferentes releituras e suportes. Além desse conto, por meio de Perrault temos acesso a “Chapeuzinho Vermelho”, o primeiro da Coleção, “Cinderela”, “A Bela Adormecida do Bosque”, “Barba Azul”, “O Gato de Botas”, “Riquet, o Topetudo” e “O Pequeno Polegar”, contos em prosa que integram a herança cultural da humanidade.

A gênese desta publicação reside num projeto de Estágio Interno Complementar (EIC) intitulado “Trabalhando com a Literatura Infantojuvenil”, vinculado à Sub-Reitoria de Graduação da UERJ. Seu objetivo principal é viabilizar a tradução e a publicação de obras da tradição já de domínio público, contribuindo para os estudos na área da literatura para crianças e jovens por meio de material fidedigno, passível de ser utilizado tanto em pesquisas acadêmicas, quanto em atividades didáticas.

Para realizar a publicação, tornou-se necessária a conjugação de esforços, o que implicou a união de professores da UERJ responsáveis pela organização da coleção, bem como a utilização de recursos oriundos de outros projetos de natureza variada da própria instituição, como o Dialogarts e a Unidade de Desenvolvimento Tecnológico Laboratório Multidisciplinar de Semiótica (UDT LABSEM). Cumpre realçar, porém, que não teríamos atingido o resultado final desejado sem a contribuição valiosa de bolsistas e orientandos que se vincularam e ainda se vinculam ao projeto, cujos nomes aparecem nos créditos da publicação, todos integrantes do Grupo de Pesquisa CNPq “A narrativa ficcional para crianças e jovens: teorias e práticas”, certificado pela UERJ, e do projeto de Extensão da UERJ “Literatura Infantojuvenil: em cont(r)os”.

Boa leitura!
Regina, Flávio e Maria Cristina

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Barba Azul é o terceiro número da Coleção Charles Perrault, homenageando o escritor francês responsável por eternizar, em livro, histórias que antes circulavam pela transmissão oral, contos maravilhosos que atravessam os tempos em diferentes releituras e suportes. Além desse conto, por meio de Perrault temos acesso a “Chapeuzinho Vermelho”, o primeiro da Coleção, “As Fadas”, o segundo, “Cinderela”, “A Bela Adormecida do Bosque”, “O Gato de Botas”, “Riquet, o Topetudo” e “O Pequeno Polegar”, contos em prosa que integram a herança cultural da humanidade.

A gênese desta publicação reside num projeto de Estágio Interno Complementar (EIC) intitulado “Trabalhando com a Literatura Infantojuvenil”, vinculado à Sub-Reitoria de Graduação da UERJ. Seu objetivo principal é viabilizar a tradução e a publicação de obras da tradição já de domínio público, contribuindo para os estudos na área da literatura para crianças e jovens por meio de material fidedigno, passível de ser utilizado tanto em pesquisas acadêmicas, quanto em atividades didáticas.

Para realizar a publicação, tornou-se necessária a conjugação de esforços, o que implicou a união de professores da UERJ responsáveis pela organização da coleção, bem como a utilização de recursos oriundos de outros projetos de natureza variada da própria instituição, como o Dialogarts e a Unidade de Desenvolvimento Tecnológico Laboratório Multidisciplinar de Semiótica (UDT LABSEM). Cumpre realçar, porém, que não teríamos atingido o resultado final desejado sem a contribuição valiosa de bolsistas e orientandos que se vincularam e ainda se vinculam ao projeto, cujos nomes aparecem nos créditos da publicação, todos integrantes do Grupo de Pesquisa CNPq “EnLIJ – Encontros com a Literatura Infantil/Juvenil: ficção, teorias e práticas”, certificado pela UERJ, e dos projetos de Extensão da UERJ “Literatura Infantojuvenil: em cont(r)os” e “Núcleo de Estudos em Literatura InfantoJuvenil da UERJ – NELIJ-UERJ”.

Boa leitura!
Regina, Flávio e Maria Cristina

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Cinderela é o quarto número da Coleção Charles Perrault, homenageando o escritor francês responsável por eternizar, em livro, histórias que antes circulavam pela transmissão oral, contos maravilhosos que atravessam os tempos em diferentes releituras e suportes. Além desse conto, por meio de Perrault temos acesso a “Chapeuzinho Vermelho”, o primeiro da Coleção, “As Fadas”, o segundo, “Barba Azul”, o terceiro, “A Bela Adormecida do Bosque”, “O Gato de Botas”, “Riquet, o Topetudo” e “O Pequeno Polegar”, contos em prosa que integram a herança cultural da humanidade.

A gênese desta publicação reside num projeto de Estágio Interno Complementar (EIC) intitulado “Trabalhando com a Literatura Infantojuvenil”, vinculado à Sub-Reitoria de Graduação da UERJ. Seu objetivo principal é viabilizar a tradução e a publicação de obras da tradição já de domínio público, contribuindo para os estudos na área da literatura para crianças e jovens por meio de material fidedigno, passível de ser utilizado tanto em pesquisas acadêmicas, quanto em atividades didáticas.

Para realizar a publicação, tornou-se necessária a conjugação de esforços, o que implicou a união de professores da UERJ responsáveis pela organização da coleção, bem como a utilização de recursos oriundos de outros projetos de natureza variada da própria instituição, como o Dialogarts e a Unidade de Desenvolvimento Tecnológico Laboratório Multidisciplinar de Semiótica (UDT LABSEM). Cumpre realçar, porém, que não teríamos atingido o resultado final desejado sem a contribuição valiosa de bolsistas e orientandos que se vincularam e ainda se vinculam ao projeto, cujos nomes aparecem nos créditos da publicação, todos integrantes do Grupo de Pesquisa CNPq “EnLIJ – Encontros com a Literatura Infantil/Juvenil: ficção, teorias e práticas”, certificado pela UERJ, dos projetos de Extensão da UERJ “Literatura Infantojuvenil: em cont(r)os” e “Núcleo de Estudos em Literatura Infantojuvenil da UERJ – NELIJ-UERJ”.

Boa leitura!
Regina, Flávio e Maria Cristina

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Riquet de Topete é o quinto número da Coleção Charles Perrault, homenageando o escritor francês responsável por eternizar, em livro, histórias que antes circulavam pela transmissão oral, contos maravilhosos que atravessam os tempos em diferentes releituras e suportes. Além desse conto, por meio de Perrault temos acesso a “Chapeuzinho Vermelho”, o primeiro da Coleção, “As Fadas”, o segundo, “Barba Azul”, o terceiro, “Cinderela”, o quarto, “A Bela Adormecida do Bosque”, “O Gato de Botas” e “O Pequeno Polegar”, contos em prosa que integram a herança cultural da humanidade.

A gênese desta publicação reside no projeto de Estágio Interno Complementar (EIC) intitulado “Trabalhando com a Literatura Infantojuvenil”, vinculado à Sub-Reitoria de Graduação da UERJ. Seu objetivo principal é viabilizar a tradução e a publicação de obras da tradição já de domínio público, contribuindo para os estudos na área da literatura para crianças e jovens por meio de material fidedigno, passível de ser utilizado tanto em pesquisas acadêmicas, quanto em atividades didáticas.

Para realizar a publicação, tornou-se necessária a conjugação de esforços, o que implicou a união de professores da UERJ responsáveis pela organização da coleção, bem como a utilização de recursos oriundos de outros projetos de natureza variada da própria instituição, como o Dialogarts e a Unidade de Desenvolvimento Tecnológico Laboratório Multidisciplinar de Semiótica (UDT LABSEM). Cumpre realçar, porém, que não teríamos atingido o resultado final desejado sem a contribuição valiosa de bolsistas e orientandos que se vincularam e ainda se vinculam ao projeto, cujos nomes aparecem nos créditos da publicação, alguns integrantes do Grupo de Pesquisa CNPq “EnLIJ – Encontros com a Literatura Infantil/Juvenil: ficção, teorias e práticas”, certificado pela UERJ, e do projeto de extensão “Núcleo de Estudos em Literatura Infantojuvenil da UERJ – NELIJ-UERJ”.

Boa leitura!
Regina, Flávio e Maria Cristina

O conto de fadas na sala de aula

Flávia Côrtes Regina Michelli

 

      Por que literatura na sala de aula?

      A sala de aula é muitas vezes o primeiro ambiente em que a criança entra em contato com a literatura, senão o único. Além de objeto do aprendizado da leitura e da escrita, a literatura infantil permite múltiplas aplicações que podem enriquecer o ambiente escolar, suscitando ao leitor em formação um posicionamento de reflexão em relação ao mundo em que vive. Tal processo pode ser apreendido através de uma leitura prazerosa e instigante, viabilizado pelo agente de formação, o educador.

      A literatura viabiliza ao leitor a experiência de ser exposto a novas vivências que possibilitam aprofundar sua humanidade, levando a um processo de educação emocional, afetiva e intuitiva. A literatura contribui para essa aprendizagem, facultando a seu leitor viver vidas alheias ao experimentar dramas e situações que envolvem personagens em uma intriga, às vezes exercendo a empatia e a alteridade por meio do exercício da leitura ficcional: “A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante” (CANDIDO, 2011, p.182). Ao mergulhar no texto literário, o leitor tem a oportunidade de exercitar novos olhares, descobrir outras perspectivas, podendo modificar sua própria identidade a partir do alargamento consciencial. O texto literário permite uma multiplicidade de análises e interpretações, de acordo com a vivência de mundo do leitor.

      As atividades com a literatura infantil em sala de aula são um exercício de hermenêutica, à medida que levam o leitor a refletir sobre significações que emergem do texto, não se restringindo apenas à compreensão do sentido linear. Para a pesquisadora Regina Zilberman, “Preservar as relações entre

a literatura e a escola, ou o uso do livro em sala de aula, decorre de ambas compartilharem um aspecto em comum: a natureza formativa.” (2017, p.25).

      Nem tudo que se escreve para criança, porém, é literatura, pois há publicações que apenas cumprem a função de livro, produto destinado ao público infantil e juvenil cujo compromisso é pautado por exigências exteriores, como o mercado editorial e escolar, o vínculo com a transmissão de valores e conhecimentos, a necessidade de entretenimento do livro-brinquedo para a criança. Como escreveu Bartolomeu Campos de Queirós, “Há livro que ‘ensina’, ou melhor, determina a sina do sujeito. Há livro que concorre para o sujeito reinventar o seu destino.” (2005, p.171). A literatura amplia a consciência de mundo do leitor porque nãolhe oferece respostas prontas; a linguagem metafórica, plurissignificativa, característica da literatura, promove a reflexão e o estranhamento, desalojando o leitor de paradigmas consolidados. Como afirmou Cecília Meireles, “A Literatura não é, como tantos supõem, um passatempo. É uma nutrição.” (1979, p.32) e acrescentamos que, se o alimento nutre o corpo, a literatura nutre a alma.

      Por que contos de fadas na sala de aula?

    Num momento em que o maravilhoso parece ameaçar a racionalidade e o estabelecido, com suas fadas, bruxas, ogros, dragões e outras figuras, tanto benéficas quanto maléficas, abolir a leitura de contos de fadas significa corroborar a censura do “sim”, ainda que hoje já percebamos a ditadura do “não”, impondo restrições e leituras unívocas que rapidamente se espalham, qual uma epidemia, pelas redes sociais:

num regime democrático as tentativas de silenciar o outro geralmente se apresentam de maneira camuflada e sutil, e necessitamos estar muito atentos. Esta censura do SIM não proíbe, mas impõe um único tipo de cultura, geralmente a cultura de massa, que tem por objetivo apenas multiplicar o consumo – e geralmente atinge sua meta. Assim se nega espaço à literatura e às obras que levem à reflexão. (MACHADO, 2001, p.87)

      

É por meio do conto de fadas que o leitor se depara com questões formadoras do caráter humano. Ao pedir que lhe contem a mesma história inúmeras vezes, a criança está em processo de auto análise, avaliando fatos e possibilidades, testando soluções, saídas, formulando formas de lidar com aquelas situações na vida real. Não estamos livres de fatalidades, dificuldades, não podemos viver em uma bolha nem colocar nossas crianças em uma. O conto de fadas é um meio muito mais seguro de se aprender sobre questões difíceis da vida humana, para quando o leitor for lidar com elas na vida real.

   Os contos de fadas são analisados hoje sob a luz de diversas áreas do conhecimento, como a psicanálise, a psicologia analítica, a história e a filosofia, o que nos permite ter uma ampla visão de sua importância e recepção em uma série de momentos históricos e entre públicos diversos. Graças a esses estudos, sabemos hoje que “os textos da tradição oral da Idade Média operavam sobre os ouvintes de modo similar ao que atuam sobre nossas crianças, embora não tivessem notícia do inconsciente freudiano.” (YUNES; PONDÉ, 1988, p.71). O conto de fadas se renova a cada geração, sem perder sua principal essência, a de envolver o leitor emquestões universais, pertinentes a toda a humanidade.

      Há muito que o psicanalista Bruno Bettelheim atentou para o fato de os contos de fadas permitirem à criança elaborar seus medos internos. Vindos de épocas muito remotas, viajando pela oralidade, essas narrativas abordam questões que continuam sendo essenciais na vivência humana, como inveja, rivalidade fraterna, ciúme, egoísmo, abandono, rejeição, fome, exploração infantil etc. Bettelheim destaca como os contos ajudam as crianças a superarem essas e outras problemáticas:

Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada transmitem à criança de forma múltipla: que uma luta contra as dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana – mas que se a pessoa não se intimida mas se defronta de modo firme com as opressões inesperadas e muitas vezes injustas,

ela dominará todos os obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa. (1980, p.14)

     

O psiquiatra Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, esclarece que “Nos mitos e contos de fada, como no sonho, a alma fala de si mesma e os arquétipos se revelam em sua combinação natural, como ‘formação, transformação, eterna recriação do sentido eterno’” (2007, p.214). A psiquiatra brasileira junguiana, Nise da Silveira, ao tratar dos contos de fadas em sua obra Jung, vida e obra, ratifica a visão de seu mestre e assevera que:

Os contos de fadas, do mesmo modo que os sonhos, são representações de acontecimentos psíquicos. Mas enquanto os sonhos apresentam-se sobrecarregados de fatos de natureza pessoal, os contos de fadas encenam os dramas da alma com materiais pertencentes em comum a todos os homens. (1976, p.119)

 

   Citando Jung, a estudiosa acrescenta ainda: “Mitos e contos de fadas dão expressão a processos inconscientes e sua narração provoca revitalização desses processos, restabelecendo assim a conexão entre consciente e inconsciente.” (Jung, Apud SILVEIRA, 1976, p.17).

      Quanto ao importante papel que o conto de fadas tem a cumprir no mundo da Educação, a pesquisadora Nelly Novaes Coelho ressalta que tais textos são “autênticas fontes de conhecimento do homem e de seu lugar no mundo” (2003, p.17). Para ela, o ser humano se desenvolve de maneira integral por meio de uma consciência cultural e coletiva. A literatura é a manifestação de arte mais importante para divulgar esses valores culturais que regem uma civilização.

o mundo dos contos de fadas ou da literatura maravilhosa dos mitos, arquétipos e símbolos, [...] surgindo na origem dos tempos, transformou em linguagem as ‘mil faces’ da Aventura Humana e a eternizou no tempo. Aí está o valor substancial da Literatura como criação: sua matéria-prima é a existência humana e o seu meio 

transmissor é a palavra, a linguagem – exatamente o meio do qual tudo no mundo necessita para ser nomeado e existir verdadeiramente para todos os homens. (COELHO, 2003, p.121-122)

   

   Poderíamos continuar apresentando muitos outros pesquisadores que assinalam a importância desse tipo de texto, autores oriundos de diferentes esferas do conhecimento, mas não é esse o objetivo desta sessão. Prossigamos, pois, passemos às características que definem os contos de fadas como um gênero textual.

   A expressão “conto de fadas” caracteriza um tipo de narrativa com especificidades próprias, via de regra regidas pela presença domaravilhoso: emergem, nos contos, eventos e seres sobrenaturais distantes da realidade extratextual cotidiana, fora de toda atualidade, cuja presença não causa estranhamento. Fadas, ogros, dragões, objetos mágicos, ações que ferem a lógica do mundo comum, animais que falam, metamorfoses e encantamentos fazem parte desse cenário caracterizado pelo maravilhoso.

      Resumindo as características do conto de fadas, destacam-se alguns pontos:

  a) narrativas originalmente recolhidas da oralidade, presumindo certa antiguidade e o anonimato oral da fonte primeira;

    b) presença do maravilhoso, o que implica a aceitação tácita de fenômenos naturais envolvendo diferentes aspectos narrativos, como, na esteira do historiador Jacques Le Goff (2010, p.27-30), personagens sobrenaturais caracterizados, geralmente, por seres humanos e antropomórficos, animais “reais” (um lobo que fala) ou imaginários (dragões, unicórnios); ações ligadas a eventos também sobrenaturais, destacando-se a metamorfose; espaços impregnados de magia, em que são constantes florestas encantadas, castelos e casas mal-assombradas; o tempo mítico expresso por sua antiguidade e indeterminação, presente em muitas narrativas pelo “Era uma vez...”.

      c) estrutura mais ou menos linear do enredo;

    d) repetição de episódios em uma narrativa, o que é bastante recorrente nos contos da tradição;

    e) o (quase sempre) desenlace feliz da história, ao lado de uma relação nem sempre lógica entre os acontecimentos e o desfecho às vezes abrupto;

   f) fórmulas de início (geralmente os verbos ser ou haver, empregados no pretérito imperfeito) e de encerramento (desfecho decorrente da própria história, como casaram-se e viveram felizes para sempre, ou exibindo um acréscimo em que geralmente o narrador intervém, como no conto “A Princesa de Bambuluá”, de Câmara Cascudo: “Eu estava lá e vi tudo e trouxe um boião de doce mas na ladeira do Escorrega escorreguei, caí e quebrou-se tudo...” (2004, p.39).

   g) distinção, nem sempre clara, entre o bem e o mal, o que relativiza as concepções morais atribuídas de forma tão determinante à constituição dos contos da tradição.

   Feito esse preâmbulo, atentamos para o fato de que, como evidenciou o pesquisador Roland Barthes, a literatura assume muitossaberes. Em um mesmo texto literário, podemos nos deparar com elementos constituintes do saber histórico, social, botânico, matemático, enfim, uma multiplicidade de saberes que já permeia naturalmente o ambiente escolar. E, dessa forma, “a literatura faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza nenhum deles: ela lhes dá um lugar indireto, e esse indireto é precioso.” (BARTHES, 2002, p.18). Sendo assim, consideramos que a escola é um espaço de elencar novas ideias por excelência, é nela que o aluno toma conhecimento do mundo em que vive, exercitando caminhos, entre erros e acertos, que virão a formar sua personalidade, e o próprio caráter; é por meio da fantasia que a criança vivencia todas as possíveis versões de soluções para sua própria realidade e, com isso, consegue inferir valores e tornar-se um ser dotado de decisões próprias. Sendo assim, qualquer atividade em sala de aula exige um planejamento em que o professor pense ações a serem desenvolvidas antes, durante e após a atividade foco.

     Para despertar, nos alunos, o interesse pela leitura de uma narrativa, qualquer que seja, é importante que o professor “cuide da história”, o que implica selecionar e preparar o texto, verificando sua adequação (temática, linguística) à turma e às políticas educacionais da escola, bem como despertar a curiosidade dos alunos, criando suspense sobre a história a ser trabalhada. A literatura infantil se utiliza de elementos lúdicos para que o pequeno leitor reflita sobre as mais diversas questões e consiga interpretar melhor o mundo que o rodeia. Esses elementos constituem excelente matéria prima a ser usada em sala de aula para envolver os alunos com o tema tratado na história em questão. Tais ações não são garantia de sucesso, mas a ausência de um bom planejamento conduz, mais facilmente, à frustração. Alguns professores preparam ainda uma ambiência adequada à história, (des)organizando o espaço físico convencional com elementos que provocam o “entrando no clima”, quer seja a floresta de Chapeuzinho Vermelho ou do Pequeno Polegar, o castelo da Bela Adormecida, ou mesmo o gabinete secreto de Barba Azul, que parece pertencer a um filme de terror.

     O desenvolvimento da atividade propriamente dita deve significar uma aventura pelo mundo da ficção, uma viagem de descoberta por meio da leitura oral ou silenciosa, de perguntas instigantes que auxiliem o aluno na construção dos sentidos propiciados pelo texto. Aqui se interpõe uma questão que perpassa as discussões entre literatura e o ensino e diz respeito à função do professor em relação ao texto literário: ensinar ou mediar a leitura? O professor e pesquisador Rildo Cosson, após analisar uma ação e outra, oferece-nos uma visão aglutinadora do que há de melhor em cada posição, enfatizando que   

não se pode negar ao professor o lugar de conhecimento, planejamento e execução do ensinar que é próprio de sua atuação. Assim como que não se pode advogar um ensino que ignore a condição de sujeito do aluno e o processo de interação que é o ensinar e o aprender na sala de aula (2015, p.269).

     

      Após a leitura, abre-se o espaço ao leitor interagir racional e emocionalmente com a história lida: avaliar o que mais gostou, modificar o enredo ou personagens, propor novos finais, criar diálogos, dramatizar partes da obra ou toda ela, construir maquetes e cenário, desenvolver relatos orais ou fixados em mural (como forma de propaganda), comparar com filmes, buscar hipertextos na internet...

    Destacamos aqui as sugestões do professor e pesquisador José Nicolau Gregorin Filho, no livro Literatura infantil: múltiplas linguagens na formação dos leitores, especialmente no capítulo dedicado à sala de aula, cuja viagem guiada pelo docente deve ter, como ponto de partida e de chegada, “o universo da literatura” (2009, p.78). Dentre as variadas sugestões de atividades elencadas por Gregorin Filho, há:

      1. Quebra-cabeça: as peças são partes da estrutura textual da narrativa, cabendo ao aluno recompor o texto original – ou, quem sabe, criar um novo texto com algumas partes;

      2. Oficinas de arte, dramatização e expressão corporal, envolvendo um trabalho multidisciplinar;

            3. Literatura na rede: tem por objetivo estimular o acesso a páginas de bons escritores cujas obras já se encontram na internet;

            4. A hora da novela: leitura de um livro em capítulos ao longo da semana;

       5. Propaganda de livro: oferece à criança um momento de se expressar livremente sobre a obra que leu.

      A obra Gramática da fantasia, do escritor Gianni Rodari, é um convite a acionar a criatividade, oferecendo múltiplas possibilidades de trabalho com os contos de fadas e com produção de textos em sala de aula. A título de exemplificação, destacamo

      1. Errando as histórias:


                                                                          – Era uma vez uma menina que se chamava Chapeuzinho

Amarelo.
– Não, Vermelho!
– Ah, sim. Vermelho. Então o seu pai a chamou e ... – Não, não foi o seu pai, foi a sua mãe.” (1982, p.51)

 

      A narrativa de Gianni Rodari, Uma história atrapalhada, exemplifica a estratégia do erro criativo: “Com nuanças de muito humor, o avô conta a história de Chapeuzinho, mas erra a cor do chapéu, o animal, o objetivo de a menina sair de casa, sendo corrigido pela neta; ao final, revela-se o móvel dessa atitude.” (MICHELLI, 2017, p.4963).

      2. Introdução de um elemento novo em uma série que sugere uma história já conhecida: menina, bosque, flores, lobo, avó, helicóptero. Para Rodari, “os professores, ou outros autores do experimento, medem com este jogo-exercício a capacidade das crianças de reagir a um elemento novo”. (1982, p.53).

     3. Fábulas ao contrário: Rodari propõe uma “reviravolta do tema fabulístico”: “Chapeuzinho Vermelho é má e o lobo é bom.” (1982, p.55); “Cinderela é tão ruim que leva sua paciente madrasta ao desespero, além de roubar os noivos de suas filhas...” (1982, p.55). Em A outra história de Chapeuzinho Vermelho, de Jean-Claude R. Alphen, a personagem lê a história de Chapeuzinho para o lobo, que não gosta do final, rechaçando a ideia de devorar vovozinhas e acreditando num final feliz para todos; o mesmo ocorre em Chapeuzinho e o Lobo-guará, de Angelo Machado, em que o lobo é vegetariano, incapaz de fazer maldades.

      4. O que acontece depois: sugere a proposta de continuar a história, com base no conhecimento de personagens e trama principal. O fantástico mistério de Feiurinha, de Pedro Bandeira, apresenta Branca de Neve e Cinderela, entre outras princesas, completando bodas de prata.

      5. Salada de histórias: “Chapeuzinho Vermelho encontra o pequeno Polegar e seus irmãos no bosque; suas aventuras se misturam” (1982, p.58). Na obra Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, as personagens do Sítio promovem uma festa cujos convidados, dentre outros, são Cinderela, Branca de Neve, Pequeno Polegar, Capinha Vermelha, Gato de Botas.

     6. Histórias em “chave obrigatória”: introdução de uma chave – como tempo e/ou espaço –, obrigando a modular a história antiga com a inserção das mudanças sugeridas, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho no Rio de Janeiro, ano de 2050.

O livro Nove Chapeuzinhos, de Flavio de Souza, representa cabalmente a estratégia de Rodari, ambientando os contos em espaços e tempos que se desdobram desde o período Cretáceo, em que Chapeuzinho é um dinossauro, passando por lugares como Índia, Grécia, Inglaterra, Brasil (Minas Gerais), ao longo de vários momentos históricos da humanidade, até chegar ao ano de 3006, em pleno espaço sideral. (MICHELLI, 2017, p.4966)

   

    7. Histórias para rir: inserção de uma personagem banal em um contexto extraordinário ou, ao contrário, uma personagem extraordinária em um contexto banal; histórias criadas a partir do aproveitamento de um erro ou de metáforas de linguagem (como vemos no início de O menino maluquinho, de Ziraldo).

     Como podemos ver, de acordo com as atividades aqui elencadas, o que não faltam são sugestões de especialistas para que o processo de leitura em sala de aula se torne eficaz e prazeroso. Cabe ao educador buscar os meios que mais se adaptam à sua turma e à proposta pedagógica da escola.

      Concluímos que a literatura infantil tem um caráter formador, tanto no que diz respeito ao alargamento de horizontes do indivíduo, como no desenvolvimento de uma criticidade do leitor, o que ultrapassa o viés meramente pedagógico, doutrinário e aponta para a “aquisição de uma consciência de significação” (ESTÉS, 2005, p.17). Por essa perspectiva, “A literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra” (COELHO, 2000, p.27). Esses elementos fazem da literatura infantil o cenário ideal para que a criança espelhe nela seus sonhos e dúvidas de infância e para que, pouco a pouco, construa em si mesma as bases sólidas de um indivíduo crítico. Assim, como destacou Rildo Cosson, é por meio da literatura que descobrimos a forma de nos expressar para o mundo. Isso se dá porque “no exercício da literatura, podemos ser outros, podemos viver como os outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa experiência e, ainda assim, sermos nós mesmos” (2018, p.17).

       Finalizamos com um fragmento de Ana Maria Machado:

Todo cidadão tem o direito de ter acesso à literatura e de descobrir como partilhar de uma herança humana comum. Prazer de ler não significa apenas achar uma história divertida ou seguir as peripécias de um enredo empolgante e fácil – além dos prazeres sensoriais que compartimos com outras espécies, existe um prazer puramente humano, o de pensar, de decifrar, argumentar, raciocinar, contestar, enfim: unir e confrontar ideias diversas. E a literatura é uma das melhores maneiras de nos encaminhar a esse território de requintados prazeres. Uma democracia não é digna desse nome se não conseguir proporcionar a todos o acesso à leitura de literatura. (2001, p.123)

 

 

Referências

BARTHES, Roland (2002). Aula. 10.ed. São Paulo: Cultrix.
BETTELHEIM, Bruno (1980). A psicanálise dos contos de fadas. Arlene Caetano

(Trad.). São Paulo: Paz e Terra.

CANDIDO, Antonio (2011). Vários escritos. 5.ed., corrigida pelo autor. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul.

CASCUDO, Luís da Câmara (2004). Contos tradicionais do Brasil. São Paulo: Global. COELHO, Nelly Novaes (2000). Literatura infantil: teoria, análise, didática. São

Paulo: Moderna.

______ (2003). O conto de fadas: símbolos, mitos, arquétipos. São Paulo: DCL.

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Artigo

Como citar: CÔRTES, Flávia; MICHELLI, Regina. O Conto de Fadas na Sala de Aula. In: Regina Michelli; Flavio García; Maria Cristina Batalha. (Org.). Chapeuzinho Vermelho/ Le Petit Chaperon Rouge. 1ed.Rio de Janeiro: Dialogarts, 2019, v. 1, p. 76-8

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