MEDO
Conto Infantil - Flávia Côrtes
Ele estava apavorado.
Era um dia cinzento, a névoa encobria o céu e o vento cortava o ar, num assobio fantasmagórico. O medo e o frio lhe regelavam até os ossos. O dia mal amanhecera e ele ali, naquele lugar horrível, assustador.
E pensar que confiara nela, naquela criatura malvada e cruel.
Ela o segurava firme, como se temesse que ele tentasse algo. E ele tentaria. Não se entregaria assim tão facilmente. Precisava lutar com todas as suas forças, sobreviver.
Aproveitando um momento de distração, puxou o braço e se viu livre. Correu como nunca tinha corrido na vida, como se sua vida dependesse daquilo. Não viu um tronco no meio do caminho e tropeçou. Caiu, mas levantou rápido, contabilizando as feridas: os dois joelhos doíam, um deles sangrava um pouco, as duas mãos estavam arranhadas, mas nada importava, precisava sair dali o quanto antes, para longe daquela coisa horrível e asquerosa.
Viu que a saída não estava tão distante. Poderia conseguir. Preparou-se para correr, mas sentiu uma mão fria em seu ombro. Era tarde demais, não havia mais como escapar. Não demorou a sentir a picada ardida.
Nããããão!!!!!
As lágrimas desciam quentes por seu rosto. Ela conseguiu mais uma vez.
- Não disse que não ia doer nada, filho? Foi só uma espetadinha.
Ele a olhou aborrecido. Espetadinha?!
- Agora que já tomou sua vacina, o que acha de um sorvete? - ela convidou, com aquele sorriso lindo que tinha o poder de fazer com ele esquecesse de tudo.
Ele lembrou do gosto bom do chocolate gelado e achou melhor perdoá-la. Mas só mais uma vez.
Flávia Côrtes